MEUS 50 ANOS DE VIDA

Fonte: arquivo FIEL.
Cristiano Scheidegger - 50 anos de vida - Uma linda história de Superação!

03 de agosto de 2022, um dia, uma data, uma história. Afinal, estou completando cinquenta anos de idade, meio século de existência, tenho motivos de sobra para comemorar esta data. E sou grato a Deus por ainda estar aqui. Ao longo desta existência, já travei muitas lutas, a vida, nunca foi fácil, para mim. Como para os meus familiares, sobretudo, meus dois irmãos, que são mais velhos, sou o terceiro filho, de um total de quatro irmãos.

Abaixo de mim, veio minha irmã. Somos todos pessoas do século passado, e se os jovens do século XXI, acham a vida difícil, no passado era pior. Eu e meus dois irmãos, começamos a trabalhar aos sete anos de idade. Se fosse hoje meu pai iria para cadeia, por exploração de trabalho infantil. O lado bom disso, todos os meus irmãos, são trabalhadores e nenhum de nós viramos bandidos. Eu e meus irmãos vivemos todos os nossos suores.

O trabalho, dignifica o ser humano. É parte de nossa identidade, perceba, que uma pessoa, ao se identificar, em uma solenidade, onde existe um protocolo de conduta, formal, fala primeiro o nome, sua formação e sua profissão. E é maravilhoso, para qualquer um de nós poder se apresentar assim. Quem poderia se orgulhar de dizer sou um criminoso, vivo do crime, não trabalho.

Até os filhos de pessoas ricas, poderosas, que são sustentados pelos pais, quando não conseguem conquistar as suas liberdades financeiras, muitos deles sofreram uma grave crise existencial, oriunda da crise de identidade, da pergunta, que todos nós fazemos, em um dado momento da vida. É aquela pergunta: “Quem sou? Para que eu sirvo? Que falta eu faria? “Se morressem hoje.”, vocês já repararam, que os casos de suicídios de jovens, são mais comuns nas classes médias e altas da sociedade, do que entre os miseráveis.

Suicidam jovens, que são filhos de pais ricos, que ganham carrões dos pais, que tem de tudo em suas casas, e no fundo, no fundo, a crise existencial, sempre estar presente, nas causas de um determinado caso de suicídio. Meu conselho, não reclame de trabalho, trabalhe, estude, lute por uma boa qualificação profissional, e tenha uma vida feliz, mesmo que esta seja simples e humilde.

Não precisa ganhar muito, se você tem sua liberdade financeira, e vive de seu trabalho, já tem uma razão muito forte para ser feliz. E ficar longe da crise existencial, que me referi acima, pois, não basta ganhar dinheiro, o ser humano precisa se sentir útil, para os outros, ser valorizado e reconhecido. Não seja hipócrita, todos nós temos esta vaidade, ninguém, deseja ou gosta, de ser esquecido, de ser apagado na sociedade.

Não tive oportunidade de estudar, de forma continuada, do ensino fundamental ao superior. Fiz os quatros primeiros anos do fundamental, na escola local, da minha comunidade, e somente após aos vinte anos, voltei a estudar, novamente, onde cursei o supletivo, para completar o fundamental, e fiz o ensino médio, que na época chamava de segundo grau.

Foi um curso profissionalizante de Técnico Contábil, que existia na época. E que permitia, atuar como contador em escritório de contabilidade. Mas, eu nunca cheguei a trabalhar, com a contabilidade, após obter o diploma de Técnico Contábil, deixei o trabalho, no campo, na propriedade do meu pai, e fui trabalhar na área da computação gráfica, mas não tinha curso nesta área, apenas tinha feitos cursos básicos de informática, tais como, MS-DOS, MS-Windows, MS-Word, MS-Excel e MS-Power Point.

Como fiz, para desvendar a computação gráfica, foi assim, um viajante, que parava no comércio do marido da minha sócia, numa serigrafia, que montei com esta pessoa. Me emprestou, um livro, chamado a Bíblia do Corel Draw. E neste livro eu pude aprender, tudo que precisava, para realizar o meu trabalho, na serigrafia. Logo percebi, que eu era autodidata, e que não precisava, de professor e cursos, para desvendar o mundo da computação. Eu somente precisava do computador e dos livros e uma caneca de café forte, para não dormir na cadeira.

E foram muitas noites em claro, mas, valeu a pena, como disse o poeta lusitano Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.” E quando eu descobri, que era possível, aprender, somente com os livros e a máquina. Eu não fiquei somente no campo da computação gráfica, fui atrás de livros de programação de computadores. E me apaixonei, pelos mundos dos códigos das linguagens de programação de computadores. E disto veio, meu primeiro emprego, com carteira assinada, meu segundo, que me permitiu ingressar na Faculdade de, onde cursei o curso de Bacharel em Sistemas de Informação.

E quando a cegueira, me apanhou, no caminho da vida, eu tive a honra de me aposentar, com o salário da carteira de trabalho, na profissão de Analista de Suporte e Técnico em Sistemas. E foi tudo muito rápido, nunca fui afeito ao futebol, mas, podemos dizer, que fiz um grande gol, aos quarenta e cinco, do segundo tempo. E sou muito grato a Deus e a empresa Transportadora Jolivan, que me deu esta oportunidade profissional.

Perceba, que aos vinte anos de idade, eu somente havia cursado, a quarta série do ensino fundamental, fui estudar à noite, cerca de 20Km de casa, enfrentando estrada de chão e asfalto, para chegar na escola. Tempestades, situações adversas, mas, não desisti dos estudos. Eu acreditava profundamente que o estudo poderia mudar a minha vida e a minha história, e de fato aconteceu.

Deus me abençoou, eu consegui chegar até aqui, por este motivo, sou feliz, não reclamo da vida. Surgiu a cegueira, me adaptei, nunca fiquei deprimido por isto. Agora surgiu o câncer, estou colhendo bons resultados, com o tratamento. Estou alegre, feliz por alcançar esta idade, não vou ficar agora especulando, se o meu tempo de vida, que tenho, pela frente é longo ou breve, o importante, o que me faz feliz, é saber, que até aqui, minha história está sendo escrita.

E confesso, de uma forma muito sincera, que mesmo com as dificuldades de hoje, estou muito mais feliz, do que quando estava na casa dos vinte anos. Entre os vinte e os trinta anos de idade, atravessei uma fase dificílima, eu já não me identificava com o trabalho no campo, mas, tive que encarar até os vinte seis. E na escola, tive muitas dificuldades, também, minha visão já estava dando problemas, em razão da retinose pigmentar, que iria me cegar, posteriormente.

E somada a isso, tinha mais coisa no pacote das dificuldades, uma delas era cruel, era o fato, que eu era totalmente inapto, para a vida em sociedade, devido, o isolamento social, que fui criado, lá na propriedade do meu pai. A energia elétrica chegou lá, quando eu estava com dezasseis anos de idade, e somente a partir desta idade, que pudemos ter rádio e TV em casa.

Antes disto, se o mundo é uma bola, para mim, na época, era uma bolinha de ping pong. E essa inaptidão social, que eu apresentava na época, gerava conflitos, com a turma na escola e no ônibus, que fazia o trajeto asfaltado do trajeto para escola. Com as matérias, eu até me saia bem, o problema era o convívio com a turma. Neste quesito, eu era um fracasso generalizado.

E eu vivia em um tremendo clima de incerteza, na época, pois não sabia o que iria fazer, para conquistar, a minha liberdade financeira, o meu lugar ao sol. E não podia deixar de registrar, que na escola, me apaixonei, por uma garota, que não me dava a menor bola. Eu não fazia sucesso com a turma, era um patinho feio, desajustado social, sem amor e sem dinheiro.

A crise existencial bateu à minha porta. E foram tempos e dias, muitos complexos. Um dia eu estava na escola, em um destes dias ruins, e escrevi, na capa do meu caderno, a seguinte frase: “Eu não quero passar, pela vida, sem deixar marcas. Para um dia morrer, sem deixar saudade.” Perceba, que a frase demonstra uma preocupação e o reconhecimento, da minha insignificância, para sociedade, naqueles tempos. E nem de longe, rima com a felicidade.

Hoje, quando vou a lugares públicos, quando reencontro meus ex-colegas da faculdade, e sobretudo, os ex-colegas de trabalho e os amigos, que conquistei na empresa Jolivan, tantos aqui na Matriz, quanto nas filiais, como a de São Paulo, o reconhecimento, pelo trabalho, que prestei, meu legado na empresa, fico muito feliz, tenho recebido, ligações e mensagens, de pessoas, do alto escalão da empresa. E dos amigos que trabalharam ao meu lado, isto é muito gratificante.

Não tenho, nada mais, a reclamar, no que tange às marcas, que sonhava em deixar, para minha posterioridade. E quando estava na empresa, tive a oportunidade de viajar e conhecer muitos estados, deste imenso Brasil, eram viagens a trabalho, a maioria delas, viajei sozinho, mas eram sempre viagens onde me diverti e aprendi muitas coisas.

Sempre que eu era mandado para algum estado, eu tinha uma missão de trabalho a cumprir, e eram coisas, da tecnologia, do aparato computacional da empresa, e nunca voltei, de uma viagem, sem ter solucionado, a minha tarefa. Sempre, que a mim era outorgado, uma missão, nas filiais, e para lá eu viajava. Eu cumpria, com êxito, a minha missão. E ao me aposentar, pensei, poxa! Acabou as viagens!

Exceto os passeios, mas de uma forma inusitada, conheci o atletismo, o universo do paralímpico, e quantas viagens, isto me proporcionou, e até tive títulos e medalhas. Graças a Deus, as coisas deram certo para mim. Minha vida é simples, minhas rendas são modestas, não tenho bens de altos valores, mas o meu maior patrimônio é o conhecimento, que adquiri ao longo desta vida.

O conhecimento nos liberta, do fanatismo, do fundamentalismo, do extremismo, da ignorância e da tirania humana. E gostaria de deixar, aqui, um conselho às pessoas jovens, que ainda não se decidiram, sobre o que fazer da vida. Meu conselho, não acredite em vida fácil, trabalhe, estude, trabalhe, escolha, você mesmo, a profissão que deseja seguir. E para ser um profissional, de excelência, você não pode apenas trabalhar, com aquilo que é sua profissão. Você precisa viver a sua profissão, amar o que faz, estudar e aprimorar seus conhecimentos diariamente.

Saia da inércia, da imobilidade, o mundo está em constante movimento, tudo que não está melhorando, está piorando, tudo que não evolui, decresce. E acaba! E para quem, já completou vinte anos, e ainda não sabe o que vai fazer da vida, ainda não completou seus estudos, ainda é tempo, faça sua escolha, comece, saia de sua zona de conforto. Dê seu primeiro passo, no caminho da sua transformação pessoal.

E a receita é simples, comece refletindo, no que de fato você quer, para sua vida, faça uma escolha, que seja genuinamente sua. Feito isso, trace um plano, elabore metas, para cada etapa do seu plano. Não se assuste, é como subir uma escada, você vai degrau, por degrau. Veja meu caso, eu não preciso repetir, aqui, como cheguei aos vinte anos de idade. Já fui bastante redundante, sobre este assunto.

Também, já foi dito, que permaneci, trabalhando no campo, até os vinte seis anos. Durante os dias, na época, eu trabalhava no campo, com gado e pastagens, e à noite, eu estudava, na cidade de Rio Novo do Sul. Eu vou contar, o que de fato mais fiz, de trabalho no campo, dos meus dezesseis aos vinte seis anos. E sei, que muitos vão duvidar, da veracidade, dos fatos, aqui descritos. Principalmente os jovens!

Eu era quem arava a terra, mas nunca fui operador de trator. E se vocês estão curiosos, para saber que raio de arado eu guiava. Era um arado de tração animal, puxado por três juntas de bois, e como cada junta de boi, são dois bois, eram seis bois de grandes portes com média de peso acima de 500 Kg, cada um deles. E não era somente para o meu pai, que eu e meu irmão. Ronaldo arava terras, com estes bois, não se engane, aramos muitos hectares, para outros proprietários.

E muitos eram grandes fazendeiros, proprietários de tratores. E porque, um fazendeiro, dono de trator, contratava o nosso trabalho? Simples, os tratores, de tração 4X4, que encaram as montanhas, que são de relevos acidentados, que são comuns aqui na nossa região. Na época ainda não existia por aqui. Já deu para imaginar, o tipo de ladeira, que nosso arado, de tração animal, era submetido. Guiar o cabo de um arado, ligado a uma força de arrasto, de seis bois, que juntos na balança, pesava 3,5 toneladas. Numa ladeira de morro, onde, você, quase não consegue ficar de pé.

É pesado, perigoso, e é para quem tem coragem. E pior, que eu gostava daquele trabalho, meu irmão também, a gente chegava numa montanha, feia, com matos, capim, pedras, erosões de terras, E em cerca de três dias, nosso arado, transformava aquilo, numa montanha de terras e pedras reviradas, que de fato parecia, obra de uma grande máquina.

Eu ainda sonho, com estes dias, no cabo do arado, e ouço o ranger das correntes, que liga o arado as cangas dos bois, e o zumbido da roda guia do arado. Que quando a terra está seca, essa bendita roda guia, range tanto, que você não consegue ouvir a voz de quem está ao lado. Também, é simples, entender, porque sonho, ainda, tais coisas. É pelo fato, que isso fez parte da minha adolescência, com dezesseis anos, eu já trabalhava com boi de canga, puxando madeira em matas.

Eu e o meu irmão Ronaldo, arrastamos toras de madeiras, com aqueles bois, que pesavam toneladas. Que brincadeira, saudável! Para dois garotos, que eram todos menores, na época! Confesso, que a coisa é até divertida, tem hora, mas, o risco de morte por esmagamento, com esse troço, é bastante real. Um simples rompimento de um cabo de aço, tensionado, pela força de três juntas de bois, produz um efeito chicote, com potencial, para matar um ser humano. É meus caros jovens! O estatuto da Criança e da Adolescência, no século passado, não existia, criança trabalhava, e trabalho de verdade!

Veja, eu comecei trabalhando, com um arado milenar, que foi inventado, pelos povos, da idade antiga, a mais de dois mil anos, atrás, lá na Mesopotâmia. Onde, hoje, fica o Iraque, Jordânia. No Oriente Médio. Esse tipo de arado, foi uma das primeiras invenções da humanidade, para auxiliar o trabalho na agricultura. A coisa surgiu, com os povos Sumérios e Fenício, que são os fundadores da vida em sociedade.

E depois, fui para a computação, sendo o computador, umas das últimas grandes invenções da humanidade. E comecei a estudar, de verdade, aos vinte anos. Do arado, dos bois, aos bits e bytes, foi uma trajetória árdua, mas, eu fui trilhando o caminho, com paciência, dedicação, persistência e foco. E deu certo!

Não me considero uma pessoa muito inteligente, sou apenas, alguém que se esforçou, para chegar onde cheguei. Você pode fazer o mesmo, ser melhor do que eu. Mas, precisa se esforçar, de nada adianta, ser inteligente, e não ter coragem de estudar. Cuidado com aquelas pessoas, que quando te vê, faz algo, que ela não sabe, fala coisas do tipo, ele tem o dom. Quando ouço algo desta natureza, eu penso, na falta de honestidade, da pessoa, comigo, e com ela mesma. Porque na maioria das vezes, a palavra “Dom”, é utilizada, para substituir, o esforço, que eu fiz, que a pessoa não quer e não tem coragem de fazer.

Conheço pessoas da minha idade, que não sabe trocar, uma resistência de um chuveiro, elétrico, que até um cego como eu faz, eu troco, nada contra, se você não troca. Só não me venha, com essa conversa fiada, que essas coisas triviais da vida, tem algo haver com dom. Basta ter coragem, buscar entender o fenômeno básico da energia elétrica, para evitar o risco de choque elétrico. E pronto, problema resolvido. Toda profissão demanda prática, estudo e aprendizado. Ninguém nasce sabendo. Mas, vale ressaltar, que todos nós temos uma grande facilidade de aprender, somente o que gostamos, e que nos interessa.

Se você não gosta de cozinhar, não gosta de culinária, nunca poderá querer viver disso. E corre o risco de morrer, velho, sem saber preparar um prato de um simples macarrão. O grande segredo é amar o que faz. E não tem diferença, se a coisa é culinária, medicina ou computação. Lembra do que falei, sobre a escolha da sua profissão. Não basta trabalhar com a coisa, tem que viver a coisa. É tornar a coisa um hábito de estudo e dedicação. E tornar isto, uma filosofia de vida! Caso contrário, você será sempre um profissional medíocre, no verdadeiro sentido da palavra, que significa, ficar na linha mediana.

Cristiano Scheidegger
Iconha, 03 de agosto de 2022.







 

 

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